Repórter Yoga
A medicina ayurvédica, como a chinesa, superou as fronteiras de seu âmbito de prática tradicional; na Europa e na América do Norte são reconhecidas como medicinas complementares ou alternativas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e seu uso vem aumentando. Nos EUA estimou-se em 2004 que 154 mil pessoas recorreram ao ayurveda no último ano, um em cada seis usuários de medicinas alternativas. Na Espanha, menos. “As medicinais naturais são menos empregadas que em outros países, nossa visão é mais restritiva”, afirma Gabriel Andrés, médico de Barcelona que há 20 anos exerce a medicina natural, especialmente o ayurveda.
Esse médico aponta que se busca no ayurveda uma abordagem da saúde que a medicina convencional não possui: “Se você tem amigdalite seis vezes por ano, o médico (alopático) receita antibióticos todas as vezes; a medicina ayurvédica tenta evitar o mal, segundo cada pessoa. Nossa medicina é mais ‘prêt-à-porter’, o ayurveda é sob medida”.
“É uma medicina que lhe dá autonomia, lhe ensina a ser responsável por seu bem-estar”, acrescenta Deva Paksha (brasileira apesar do nome), que se dedica ao ayurveda há oito anos e preside na Catalunha a associação Shankha, de pesquisa e difusão da cultura veda e da ciência ayurvédica.
Paksha salienta que o ayurveda exige “coerência e disciplina” no estilo de vida, mas que pode ser adaptado à forma de vida atual. Andrés aconselha para uma pessoa saudável uma ou duas consultas por ano para rever pautas nutricionais, físicas, emocionais… Seus pacientes o procuram sobretudo por problemas de dor, psico-emocionais e alergias.
“A medicina convencional não se concentra na promoção da saúde nem na prevenção, e não resolve bem o tratamento de patologias crônicas, como quando os medicamentos causam efeitos colaterais”, acrescenta Andrés. Cada dia mais, diante dos problemas derivados de hábitos de vida pouco saudáveis, aposta-se em manter a saúde e em prevenir. Andrés acredita que podem ajudar nesse sentido medicinas como o ayurveda, e por isso deveriam ter mais espaço no sistema de saúde. A OMS, em seu plano de medicinas tradicionais 2002-2005, defendeu que sejam mais integradas aos sistemas de saúde dos países ricos e também dos pobres, onde são o único tratamento a que milhões de pessoas têm acesso.
A OMS já alertou que a ampliação do uso aumenta as exigências de segurança e qualidade. Faltam manuais terapêuticos e evidência sistematizada da eficácia das terapias. A eficiência de algumas plantas contra o colesterol ou a esquizofrenia foi testada nos EUA, mas não comprovada; e estudam-se outras contra patologia vascular e os efeitos de medicamentos contra o mal de Parkinson (o centro Nccam dos EUA ou a base PubMed oferecem dados).
Nos EUA em 2004 descobriram-se 70 produtos ayurvédicos não autorizados, 14 com doses de metais que representavam risco. Na Espanha há poucos produtos ayurvédicos, mas começam a ser vendidos, como as infusões da dietética Santiveri.
A falta de garantias de formação qualificada e de sistemas de homologação são outros aspectos que a OMS pediu aos governos e ao setor de ayurveda que corrijam. Indicou que na Índia deve-se apoiar o negócio turístico, mas vigiando a qualidade. Andrés queixa-se de que muitas pessoas banalizam os cuidados com a saúde e não exigem qualidade. Como médico, defende que só estes podem diagnosticar e devem supervisionar o tratamento, visão da qual divergem os terapeutas não-médicos. Andrés promove uma pós-graduação universitária ayurveda na Catalunha. Paksha afirma que o melhor antídoto contra a má qualidade é educar os terapeutas e os usuários.
Fonte: La Vanguardia – Marta Ricart